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A OFERTA DE ALIMENTOS SERÁ UM CAOS
MAURO ZAFALONCOLUNISTA DA FOLHA DE SÃO PAULO
Após uma quebra de safra nos EUA no ano passado, outra na América do Sul no começo deste ano e mais uma agora nos EUA, qualquer clima ruim na nova safra da América do Sul, que começará a ser semeada, provocará brutal redução nos estoques mundiais de alimentos.
Voltarão à tona as discussões sobre crise alimentar e eventuais políticas de segurança alimentar a serem adotadas por países dependentes da importação de grãos.
Os números são impressionantes. Apenas nesse período mencionado (nas safras do ano passado e deste), os EUA deixaram de colher 132 milhões de toneladas de milho. Algumas regiões da América do Sul, como o Sul do Brasil, também tiveram fortes perdas.
A redução na oferta de soja foi de 38 milhões de toneladas, quando comparadas as estimativas iniciais com a safra colhida nos Estados Undos e na América do Sul.
O relatório de oferta e demanda mundiais divulgado anteontem pelo Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) aponta o cenário ruim do momento, registrando queda de 102 milhões de toneladas na produção de milho do país, comparando a meta inicial da safra com a produção efetiva que os norte-americanos terão.
O Usda tenta minimizar os efeitos da redução de safra provocada pela seca refazendo os números de consumo.
No caso do milho, por exemplo, a estimativa de consumo total dos EUA para a safra 2012/13 -o número inclui as exportações- é de apenas 285 milhões de toneladas. É um número irreal, uma vez que as exigências do mercado norte-americano já superam 320 milhões de toneladas por ano.
Só a produção de etanol consumiu 127 milhões de toneladas no ano passado. O Usda prevê uso menor de milho na produção desse combustível neste ano, mas essa queda tem um limite. O país tem um patamar de produção de etanol fixado por lei.
Para que os estoques mundiais sejam refeitos, o Usda aposta em safras maiores de milho e de soja no Brasil e na Argentina. Esses países ganhariam também fatia maior nas exportações mundiais.
Os dados da semana passada do governo norte-americano apontaram que o Brasil exportará o recorde de 14 milhões de toneladas de milho e 38 milhões de toneladas de soja.
Preços internacionais elevados e dólar mais favorável permitem essas exportações. O problema é a logística para a saída desses produtos.
A escassez de grãos força a alta nos preços. Isso é bom para toda a cadeia agrícola, que passa a ter margem maior na comercialização. Na outra ponta, no entanto, estão as indústrias processadoras de alimentos, que pagam mais pela matéria-prima e vão repassar os aumentos de custos para os consumidores.
Os dados de inflação divulgados na semana passada pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) indicam que o consumidor paulistano está pagando 2% mais pelos óleos de soja e de milho nos últimos 30 dias.
Esse deve ser apenas o início dos reajustes, uma vez que a alta de preços no campo demora várias semanas para chegar ao varejo.
Nos últimos 30 dias, a inflação média teve elevação de 0,16% em São Paulo, aponta a Fipe.
Seca severa afeta 90% das plantações de milho nos EUA
Preço da carne, dos ovos e dos laticínios deve aumentar até 5% nos RAUL JUSTE LORES
DE NOVA YORK
Cerca de 65% do território dos EUA, excluindo Alasca e Havaí, sofre uma das mais severas secas da história.
Segundo estimativas do governo americano, o preço da carne, dos ovos e dos laticínios deve aumentar de 4% a 5% nos próximos 12 meses.
Quase 90% das plantações de milho foram afetadas, e as consequências vão da pecuária à energia.
O grão é usado como ração para os rebanhos locais e também na produção do etanol norte-americano.
Mas o efeito é global, pois 32% da produção mundial de milho é norte-americana.
EUA, Brasil e Argentina são os principais exportadores do cereal.
O preço do grão subiu 33% nos últimos três meses.
Essa alta é comemorada pelos produtores, que têm renda maior, mas já afeta a inflação e os custos de produção das carnes, já que os preços do farelo de soja e do milho são itens importantes na composição da ração.
A colheita de soja nos EUA é a menor em cinco anos, e a de milho, em seis anos.
As perdas devem chegar a bilhões de dólares. A produção de milho gerou renda de US$ 76,5 bilhões no ano passado no país (como comparação, o faturamento total da Vale é de US$ 60 bilhões).
CALOR
Este já é o ano mais quente da história dos EUA, desde as primeiras medições oficiais, em 1895.
Cerca de mil condados em 29 Estados foram declarados área de desastre natural, o que permite financiamento federal a juros baixos para os produtores e que áreas de conservação e reserva sejam usadas como pasto.
O maior efeito político da seca, até agora, no entanto, é a pressão para a aprovação no Congresso de um pacote de incentivos e subsídios agrícolas de US$ 1 trilhão nos próximos cinco anos.
Mas setores do Partido Republicano contrários ao pacote conseguiram empurrar a votação para depois do recesso de verão do Congresso norte-americano, que começou na quinta-feira e dura cinco semanas.
MAURO ZAFALON
COLUNISTA DA FOLHA DE SÃO PAULO
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